Valorização do imóvel e redução de custos mensais aquecem mercado
- Raphaela Ribas / Publicado:
Construção sustentável em Pedro
do Rio, do arquiteto Sergio Caldas Divulgação
RIO - Quando o homem criou seus
primeiros protótipos de casas, a preocupação era ter espaços seguros,
aproveitando a luz e a ventilação natural. Com o tempo, ele foi adotando novas
técnicas de construção, sem qualquer preocupação com o meio ambiente. Hoje, a
ordem é voltar a usar o máximo possível os recursos naturais. Investindo em
moradias sustentáveis, duas instituições internacionais já concedem selos
verdes para casas independentes no Rio, num mercado que tende a crescer e que
ganhará, em breve, um terceiro tipo de selo.
Até o fim do ano, o Green
Building Council Brasil (GBC), que fomenta a indústria de construções
sustentáveis em todo o mundo e que hoje emite o selo americano LEED (sigla em
inglês para Liderança em Energia e Design Ambiental) para obras comerciais,
ganhará um certificado especial para residências. Com custo que varia de R$ 3
mil a R$ 9 mil, dependendo da metragem, a organização estima uma valorização de
10% a 20% do imóvel “verde” e redução no custo de manutenção mensal entre 8% e
9%.
Nove projetos pilotos
O Referencial GBC Brasil Casa
ainda está na fase de ajustes e só deve estar aberto ao público depois que seus
nove projetos pilotos estiverem concluídos, e os detalhes para criação de
parâmetros nacionais de viabilidade, economia e técnica de sustentabilidade,
definidos.
Estes projetos estão localizados
em São Paulo (capital, litoral e interior), Brasília, Rio Grande do Sul e Mato
Grosso. Entre os critérios de avaliação, estão reutilização de água e energia,
gerenciamento de resíduos, controle de emissão de gases de combustão e
acústica, mobilidade e durabilidade. Marcos Casado, diretor técnico e
educacional do GBC Brasil, explica que a ideia de uma referência para casas
sustentáveis surgiu após o GBC receber vários questionamentos de proprietários
e empresas sobre os parâmetros que definiam uma casa sustentável.
As áreas construídas em até 300
m² ficarão isentas de taxa de inscrição e terão somente o custo de avaliação do
projeto, de R$ 3 mil. Já proprietários de imóveis com tamanho entre 300m² e
600m² pagarão mil reais de inscrição e R$ 5 mil de avaliação. Acima de 600m²,
as taxas previstas são de R$ 2 mil e R$ 7 mil, respectivamente. O custo inclui
uma avaliação dos projetos na fase inicial e cinco visitas no decorrer da obra
para auditoria.
Os selos que já existem
O Building Research
Establishment, que concede o selo inglês Breeam, já aceita pedidos para
certificação de sustentabilidade em casas, mas ainda não concedeu nenhum selo
no Brasil. A previsão é que no próximo mês seja emitida a primeira certificação
Breeam para uma residência. Localizada em Petrópolis, Região Serrana do Estado
do Rio, a casa faz parte de um conjunto de oito, todas construídas com
aproveitamento da água da chuva e energia solar e teto verde, entre outros
critérios.
O arquiteto e idealizador do
condomínio, Sergio Conde Caldas, explica que o principal desafio foi construir
uma casa totalmente sustentável, mas com os mesmos custos de uma comum. Segundo
Viviane Cunha, consultora de sustentabilidade e avaliadora do Breeam Brasil, a
residência que receberá o selo está em processo final de certificação e as
demais em outras etapas. Os valores para se obter o selo Breeam variam conforme
a metragem, sendo a partir de R$ 8 mil para casas novas e R$ 5 mil para imóveis
já existentes.
— O selo é uma chancela de que a
casa foi testada e aprovada, e isso valoriza o imóvel — pontua Caldas.
No Rio, a prefeitura tem o selo
sustentável Qualiverde, que traz benefícios no bolso também, inclusive com
descontos em impostos. Não há custo para o requerimento de obtenção do
Qualiverde, e um projeto de lei está em estudo para detalhar estes descontos.
Lançado no ano passado, até agora
são cinco processos em andamento, quatro consultas e um projeto qualificado.
Dos projetos em andamento, dois são residenciais.
“Não há relação direta do
Qualiverde com selos como o LEED, apesar de várias ações serem comuns a ambos,
como estratégias de uso racional da água. Os prédios qualificados no LEED, por
exemplo, não necessariamente conseguem ser qualificados no Qualiverde, ou
vice-versa, uma vez que focamos mais em projetos e parâmetros urbanísticos,
como ventilação natural e permeabilidade do solo, e menos em sistemas de
eficiência energética”, explica, em nota, a prefeitura.
Mais liquidez na venda
Outros projetos, ainda que não
sejam voltados para casas independentes, mas sim para a área residencial,
reforçam o viés ecológico de futuras moradias, a exemplo da certificação AQUA
(Alta Qualidade Ambiental), conferida pela Fundação Vanzolini. Ela não possui referencial
técnico para certificar casas, mas abrange empreendimentos comerciais,
residenciais, bairros e loteamentos.
Em março, o Residencial Damha I,
em Campos dos Goytacazes, se tornou o primeiro loteamento no Estado do Rio a
receber o AQUA.
Mas, apesar de todo o discurso
ambiental, qual a vantagem de ter uma casa sustentável?
Segundo Felipe Faria, diretor
gerente da GBC Brasil, o metro quadrado de uma casa “verde” é mais valorizado e
a velocidade de venda, maior. Para Bianca Carvalho, diretora executiva da
Facility Consult, aplicar ações sustentáveis numa obra até pouco tempo atrás
era visto apenas como gasto, mas nos últimos anos isto tem mudado:
— Com muitas empresas se
instalando nos últimos 30 anos no Rio, está se criando uma nova cultura. Você
investe mais em um projeto sustentável, porém, no dia a dia, tem redução de 7%
a 15% no custo da conta de energia e água.
Leonardo Schneider,
vice-presidente do Secovi-Rio, engrossa o coro de que a busca por imóveis
sustentáveis tem crescido e, consequentemente, a liquidez na venda também. Ele
ressalta que muita gente já entende que o investimento é recuperado através da
economia nos gastos mensais com manutenção. Já Bianca e Caldas dizem que a
liquidez depende da região. Para eles, na Zona Sul e Oeste, por exemplo, a
absorção do empreendimento “verde” é grande. Na Zona Norte, nem tanto.
O arquiteto ressalta que duas
medidas poderiam contribuir para baixar os custos da construção de imóveis
residenciais sustentáveis. A primeira seria já iniciar o projeto com critérios
que minimizem o impacto ambiental, em vez de fazer adaptações depois que o
imóvel está pronto. A segunda seria diminuir a carga tributária sobre produtos
sustentáveis que, segundo ele, ainda são muito caros no Brasil.
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